Tuesday, March 27, 2007

Ver

ver, cair da noite,
a frase de guillén
— coração-mar —
pulso até a areia
e nada

diástole? síncope,
sístole infinita

prédios contemplam a praia
fugir, sob a água,
de suas sombras

: atmosfera de algum livro,
lugar sem distâncias.

Tarso M. de Melo

The secret remains in the book

The secret remains in the book
It is a palace
It is a double house

It is a book you lost
It is a place from which you watch
the burning of your house

I have swallowed this blank
this libel of shores
nights that like the book are lost


Michael Palmer

Sunday, March 11, 2007

Leitura: prosa japonesa nessa 2a feira na Dantes



Após a leitura dos inéditos do Cortázar, em fevereiro, os encontros passam a acontecer mensalmente, sempre com um autor ou tema diferente.

Os leitores dessa vez serão: Ricardo Cabral , Roberta Freitas, Diana Coll, Akemi Ono, Ana Carolina Cunha Lima e Guilherme Kato. Dentre os autores estão: Junichiro Tanizaki, Genichiro Takahashi, Yukio Mishima e Haruki Murakami.

Cartaz de Guilherme Kato.

Monday, March 05, 2007

Esta fotografia, tua última

Esta fotografia, tua última, deixei-a na parede, onde a puseras,
entre as duas janelas,


E ao entardecer, recebendo a luz, sento-me, nesta cadeira,
sempre a mesma, para olhar para ela, onde a puseste, entre as
duas janelas,


E o que se vê, aí, recebendo a luz, que declina, no golfo de
tetos, à esquerda da igreja, o que se vê, ao entardecer,
sentado nesta cadeira, é, precisamente,


O que mostra a imagem deixada na parede, no papel marrom
escuro da parede, entre as duas janelas, a luz,


Avança, em duas línguas oblíquas flui na imagem, de revés,
até o ponto exato onde o olhar que a concebeu, o teu, concebeu,
versar indefinidamente a luz reversa a quem, eu, olha para ela,


Pousada, no centro, do que ela mostra,


porque nesse centro, o centro do que ela mostra, que eu vejo,
há também, recorrente, a própria imagem, contida nele, e a
luz, entra, desde sempre, do golfo de tetos à esquerda da igreja,
mas sobretudo há, o que agora falta


Tu. porque teus olhos na imagem, que olham para mim,
neste ponto, nesta cadeira, onde eu me sento, para ver-te, teus
olhos,


Já vêem, o momento, em que estarias ausente, prevêem-no, e é
porque, eu não pude mover-me deste lugar.


Jacques Roubaud. Mais um poema afanado do pesa-nervos.

Elefantes batiam-se a golpes de marfim

Elefantes batiam-se a golpes de marfim:
pareciam talhados na pedra branca.
Cervos entrecruzavam seus galhos:
pareciam travados por antigas núpcias
em mútua paixão e mútua infidelidade.
Rios desaguavam no mar:
o braço de um afogava o colo do outro.


Vielimir Khlébnikov, 1911.