Monday, March 05, 2007

Esta fotografia, tua última

Esta fotografia, tua última, deixei-a na parede, onde a puseras,
entre as duas janelas,


E ao entardecer, recebendo a luz, sento-me, nesta cadeira,
sempre a mesma, para olhar para ela, onde a puseste, entre as
duas janelas,


E o que se vê, aí, recebendo a luz, que declina, no golfo de
tetos, à esquerda da igreja, o que se vê, ao entardecer,
sentado nesta cadeira, é, precisamente,


O que mostra a imagem deixada na parede, no papel marrom
escuro da parede, entre as duas janelas, a luz,


Avança, em duas línguas oblíquas flui na imagem, de revés,
até o ponto exato onde o olhar que a concebeu, o teu, concebeu,
versar indefinidamente a luz reversa a quem, eu, olha para ela,


Pousada, no centro, do que ela mostra,


porque nesse centro, o centro do que ela mostra, que eu vejo,
há também, recorrente, a própria imagem, contida nele, e a
luz, entra, desde sempre, do golfo de tetos à esquerda da igreja,
mas sobretudo há, o que agora falta


Tu. porque teus olhos na imagem, que olham para mim,
neste ponto, nesta cadeira, onde eu me sento, para ver-te, teus
olhos,


Já vêem, o momento, em que estarias ausente, prevêem-no, e é
porque, eu não pude mover-me deste lugar.


Jacques Roubaud. Mais um poema afanado do pesa-nervos.

1 Comments:

Blogger Pesa-Nervos said...

carol, pode afanar mesmo!!! olha, estou em casa hoje, sexta, pela tarde - qq cosia liga!!!

12:12 PM  

Post a Comment

<< Home